A
autora é brasileira e reside em Macau onde exerceu (exerce) medicina. É curioso
verificar a quantidade de médicos que são simultaneamente escritores, quase
como se precisassem de exorcizar os fantasmas e demónios com que a profissão os
‘obriga’ a conviver.
E
a escrita desta poetisa é mesmo isso. Sente-se que se trata de uma poesia vinda
de dentro, sentida, onde cada palavra pretende dizer mais do que aquilo que
significa, pretende levar-nos a pensar ao mesmo tempo que nos emocionamos.
Todo
o livro é constituído por um conjunto de sentimentos que nos dão uma visão da
vida, uma visão filosófica. De repente o leitor é levado para um mundo, que
sendo o do sujeito poético, acaba por se tornar seu. Mas não é um mundo feito,
acabado. É um mundo onde ele tem de refletir sobre o que o rodeia e sobre si
mesmo. É um mundo onde as palavras nos encantam como se de sereias se
tratassem, pois, embora esteja, aparentemente, tudo dito, essa certeza não é
mais do que uma ilusão, um desafio, um engano. A diferença é que as sereias
matam enquanto Sellma levamos a pensar na vida e, em última análise, no nosso
papel, no nosso lugar, nos nossos sonhos.
Mais
um livro de poesia que recomendo. E fico à espera da próxima obra de Sellma
Luanny, esperando que surja rapidamente.
Um século e meio depois, Sellma achou de trilhar trajetória similar à de Gonçalves Dias. Ainda mais ousada, alongou a distância percorrida, mas manteve a proximidade com a língua lusitana.
ResponderEliminarNós que cá permanecemos, saudosos, em vão tentamos argumentar: “Onde vais? Não hás de encontrar palmeiras nem sabiás que nelas cantem como cá!”
Resoluta como sempre foi, ela seguiu seu destino. Levou pra longe conhecimentos cuja aquisição testemunhamos e cuja aplicação sonhamos - quem sabia? - um dia poder compartilhar.
Sorte nossa que, de vez em quando, ela releva mazelas que cá persistem tanto quanto os primores descantados pelo poeta, e vem de novo ouvir nossas aves qu’inda teimam em gorjear.
Idas e vindas que hão de fomentar muitas outras obras. Auguramos todos.