Opinião: A manhã do Mundo de Pedro Guilherme-Moreira é um livro
que tinha há bastante tempo na prateleira. Na verdade, desde 2011 e só agora
com o apoio da Isaura (obrigada Isaura) e de uma leitura conjunta resolvi pegar
nele. Por vezes temos obras que já nos esquecemos que possuímos e não
consciencializamos o valor que têm e o que estamos a perder. Esta é uma dessas
obras.
Tendo
como base o 11 de setembro de 2001 e o atentado às Torres Gémeas o livro
poderia ser dramático e ter caído nos lugares comuns que, este tipo de acontecimentos
acaba sempre por originar. Mas tal não acontece. O autor consegue criar um
enredo que nos leva a sentir a claustrofobia de quem se encontra preso nas
torres aquando do embate do avião.
A
primeira parte do livro cria uma teia apresentando pessoas que estão ou
deveriam estar nas Torres Gémeas no momento do atentado. A descrição é de tal
forma realista que o pó, o sufoco, o desespero, ou a ansiedade passam para o
leitor. Por outro lado, as pessoas que tiveram a ‘sorte’, o acaso que fez com
que a vida (e neste caso não a morte) as levasse para um caminho e para uma
situação que apesar de ser favorável tira a respiração, quer às personagens,
quer ao leitor.
A
segunda parte do livro acaba por ser um momento de segundas oportunidades. E se
conseguíssemos viver este dia sabendo o que iria acontecer? Esta verdade
leva-nos a uma outra dimensão que não achei tão bem conseguida por parte de Pedro
Guilherme-Moreira. A ideia é interessante, mas senti que me faltou algo mais
heroico, mais motivante. As atitudes das personagens que já sabiam que ia haver
um atentado pareceram-me um pouco frouxas, sem a garra devida para um
acontecimento tão dramático. No entanto este desvio não desvirtualiza, de todo,
o livro.
A
escrita do autor é bastante boa. É uma escrita irrepreensível, clara e de tal
forma correta que se torna um prazer para quem lê. A sua construção narrativa
também está bem construída e é bastante interessante pois as personagens
ligam-se sem, no entanto, deixarem de ter personalidades e sentimentos
individuais. Sem dúvida um autor de quem gostaria de ler outros livros.
Quero
agradecer à Isaura Ribeiro, do blog e canal Jardim de mil histórias esta
leitura conjunta que enriqueceu, e muito, a minha visão do livro.
Sinopse: "E se alguém que assistiu a tudo pudesse, de repente, acordar a tempo de evitar a tragédia? No dia 12 de Setembro de 2001, Ayda encontrou-se com Teresa num café de Allentown e, com o jornal aberto sobre a mesa, foi implacável com os que tinham saltado das Torres Gémeas, chamando-lhes cobardes; mas não disse à amiga que, na verdade, o que sentia era outra coisa, uma grande frustração por o marido e o filho a terem abandonado e rumado a Nova Iorque num momento em que ela se recusava a tomar a medicação e lhes tornava a vida um Inferno - e de não ter coragem de fazer o que esses tinham feito. Entre os que saltaram, estavam Thea, Millard, Mark, Alice e Solomon - todos personagens fascinantes, com histórias de vida simultaneamente banais e extraordinárias -, que o acaso reuniu no 106.º piso da Torre Norte do World Trade Center naquela fatídica manhã. Se Ayda, por hipótese, conhecesse essas histórias e o drama que eles enfrentaram, decerto não os teria insultado tão levianamente. Mas poderá o destino dar-lhe uma oportunidade de rever a História? Este é um romance admirável sobre o medo e a coragem, o desespero e a lucidez, a culpa e a expiação; mas é também um livro sobre Einstein e os universos paralelos, sobre o que foi e o que podia não ter sido. No décimo aniversário do 11 de Setembro, a memória não basta, é preciso combater o esquecimento indo para junto dos heróis que viveram o horror e compreender cada um dos seus atos - se necessário, saltar com eles, conhecer aquela que foi a manhã do Mundo. "
."
."
Um livro muito interessante,com uma opinião sincera,gostei.
ResponderEliminarOlá Maria João,
ResponderEliminarJá tinhamos falado disso tudo e concordo.
Acabei por gostar mais do que esperava. Mas foi uma boa leitura conjunta.
Um beijinho