Crítica por Isabel de Almeida (Crítica Literária | Jornalista)
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Em Pablo Escobar, o Meu Pai, decorridos mais de vinte anos sobre a
morte do Capo do Cartel de Medellín, o seu filho Juan Pablo Escobar dispôs-se a
narrar nesta obra biográfica que conjuga relato pessoal e investigação, muitos
detalhes e acontecimentos que marcaram o percurso de vida do seu tristemente
famoso pai, da Colômbia e do seu respectivo contexto político e social nos anos
80 e 90, durante os quais Pablo Escobar chegou a ser um dos homens mais ricos,
poderosos e temidos do mundo devido à sua ligação ao narcotráfico e à escalada
de violência associada a esta actividade criminosa.
A proximidade do narrador ao seu pai
transporta o leitor para o seio de uma família que estava conotada com os
negócios ilícitos de Escobar mas onde também existiam grandes e pequenos
dramas, raiva e carinho, traições e lealdades, amores e ódios, e só por aqui já
é expectável que fiquemos a conhecer o homem por detrás do traficante, Pablo
Escobar é um poço de ambiguidades, de polos que se opõem e é percepcionada ao
lermos esta obra.
O tom coloquial, as emoções que fluem da
escrita e que oscilam entre carinho, medo, admiração e recriminação, amor
familiar e repúdio estão naturalmente integradas neste livro, sendo assumida a
subjectividade da escrita.
Pablo Escobar era um homem que, como
resulta do olhar do seu filho, e como podemos deduzir de factos históricos
conhecidos e de documentos reunidos nesta obra, era composto de ambiguidades.
Era um homem inteligente, impulsivo, narcísico e egocêntrico, capaz de gestos
nobres mas, também impiedoso para com todos os que se cruzavam no seu caminho e
o contrariassem. Ironicamente, praticou actos de generosidade, ajudou os mais
pobres, disponibilizou aviões para ajudar nas operações de socorro na sequência
de uma erupção vulcânica e quis o impossível. Algures na sua mente criou a
firme convicção firme de que era legítimo, aceitável e perfeitamente natural
praticar o bem e defender causas políticas e sociais tendo como base de suporte
económico os lucros do narcotráfico, e aceitando o preço da perda de vidas
humanas (algumas delas inocentes).
De uma vida de opulência, com todas as
excentricidades que o dinheiro pode comprar (por exemplo, um jardim zoológico
com animais exóticos instalado na sua mais famosa propriedade a Fazenda
Nápoles, que, curiosamente, deve o nome à nacionalidade dos pais de Al Capone,
um dos seus ídolos) até chegar ao terror da incerteza permanente quanto ao
local onde estaria toda a família no dia seguinte, o temer pela própria vida e
pela dos seus ente queridos, todo este cenário nos desfila perante os olhos
durante a leitura, sendo perceptível a tensão vivenciada pelo autor e pela
família.
Podemos encontrar aqui relatos que
ilustram a loucura de um homem (Pablo Escobar), mas não se fica indiferente à
incoerência e corrupção bem patente em todo um sistema ao mais alto nível
(político, militar, policial, segurança interna e relações externas).
No decurso da leitura parece-nos, muitas
vezes, estarmos a assistir a mais uma produção televisiva ou cinematográfica
sobre a família Escobar, mas, ao racionalizar, o leitor nota que, afinal, em
tantos momentos e histórias surgem realidades que se revelam bem mais complexas
e assustadoras do que a ficção.
O livro é também, a meu ver, um
testemunho de resiliência, de sobrevivência, de reconstrução do autor e da sua
família mais próxima.
Juan Pablo Escobar é um filho com uma
herança muito pesada e ciente de que, após a morte do pai, o terror não só não
abandonou esta família como se elevou a níveis ainda mais assustadores. O
autor, a mãe - Victoria Eugenia Henao Vallejo - e a irmã Manuela conseguiram
escapar a uma morte quase certa e aqui fica a ideia de que muito devem à
coragem da matriarca bastante protectora, que enfrentou e negociou as suas
vidas com cartéis concorrentes e com as autoridades que também levantaram
obstáculos a uma nova vida que cortasse com o passado.
Também, à sua maneira, Pablo Escobar foi
um pai e marido protector que demonstrou gostar da família (embora sejam
famosas as suas infidelidades conjugais) e que estaria bastante consciente dos
riscos que a esposa e os filhos correriam após a sua morte.
Num plano menos familiar e mais
histórico e sociológico, somos confrontados com a extensa rede de ligações
perigosas e obscuras que mobilizava aliados inesperados como forças de
segurança Colombianas, a DEA (agência governamental Norte Americana que combate
o Tráfico de Droga), a CIA (Serviços Secretos Norte Americanos) e os Pepes
(Perseguidos por Pablo Escobar, um grupo que incluía paramilitares, membros de
cartéis rivais, forças de segurança e familiares das vítimas do Capo do Cartel
de Medellín).
O autor, a mãe e a irmã perderam até a
identidade (mudaram de nome oficialmente como medida de segurança) encontraram
um novo pais para viver. Juan Pablo mostra-se determinado a passar às gerações
presentes e futuras uma mensagem bastante útil e pertinente num mundo que
atravessa uma crise de valores: a mensagem é a de que nada há de bom e positivo
no tráfico e consumo de drogas e no uso de violência aos mesmos associado,
sendo o seu pai um exemplo a não seguir.
Numa atitude clara de reconciliação com
a sua conturbada narrativa familiar Juan Pablo Escobar (agora Juan Sebastian
Marroquín Santos) é pacifista e vem estabelecendo contactos com familiares das
inúmeras vítimas do pai, pedindo perdão pelo sucedido.
Um livro revelador, escrito de forma
consistente e emotiva e que desperta consciências, lembrando-nos que nada é
linear, mada é apenas preto ou branco.
Ficha Técnica do
Livro:
Autor: Juan Pablo
Escobar
1ª Edição: Março de
2015
3ª Edição: Abril de 2017
Nº de Páginas: 416
Classificação: 5|5
Estrelas
Género: Biografia |
Testemunho | Caso Real
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