terça-feira, 11 de julho de 2017

Ruth Ware - "Numa floresta muito escura" | Clube do autor


           Este é um livro que tinha há mais de um ano na estante. Tirava, colocava, e acabei por não o ler.
Agora, devido à Maratona literária de verão, e à publicação de um novo livro da autora, acabei, finalmente, por o ler. E fiz bem.
Na verdade, o livro tem todos os ingredientes que me agradam. Tem suspense, vários tempos narrativos, que vão alternando até se juntarem no presente e uma sequência narrativa que nos faz querer ler o capítulo seguinte.
         Nora é uma jovem escritora que subitamente recebe um convite para ir à despedida de solteira de uma amiga de liceu, que não vê há dez anos. Nada de extraordinário, não fosse o facto da distância temporal sem se falarem, de não estar convidada para o casamento e, como tal, não saber sequer quem era o noivo.
         Ficamos também a saber que Nora e Clare, a noiva, foram melhores amigas, e que o afastamento se deveu a um problema amoroso de Nora, de tal forma importante, que esta resolve sair da cidade onde vivia, sem se despedir de ninguém. O problema é que dez anos depois a jovem escritora continua a olhar para o passado e a não esquecer os sentimentos de raiva perante o que lhe aconteceu.
         No entanto, resolve ir ao fim de semana, para ver se, dessa forma, consegue fazer as pazes com o passado. O problema é que tudo corre mal desde a chegada a uma casa escura, cheia de grandes janelas viradas para a floresta, até às pessoas, na sua maioria desconhecidas, e com comportamentos inadequados. Estas três/ quatro personagens que coabitam a casa, são, no mínimo, enigmáticas, e não sabemos, senão no final, interpretar as suas atitudes e ações.
         A partir destas premissas Ruth Ware constrói um romance psicológico, onde Nora (e a história é-nos sempre dada através da sua visão) não consegue entender o que se passa, qual o jogo que os outros jogam, ou o que pretende Clare com aquele encontro.
Podemos pensar que este é um livro sobre os problemas da amizade e das situações mal resolvidas. Não achei. Considero que se trata de um livro sobre egos e a valorização da pessoa e da sua vida sobre as outras. A amizade não tem egos, e não funciona com um ‘eu’, funciona com um ‘nós’, o que nunca surge neste livro. Todas as personagens, protagonista incluída, querem sobreviver por si, mostrar as suas competências e demostrar o que são capazes de fazer pelo outro, para que o outro reconheça nela essas mesmas aptidões. Só assim podemos entender a introdução de uma personagem como Melanie.
         No entanto é na realidade um livro sobre situações mal resolvidas e equívocos do passado. Mais, o seu esclarecimento, tanto tempo depois, é o mote para os acontecimentos mais dramáticos do livro.

Tudo isto é pouco perante o que se passa no livro, mas o suspense é a melhor forma de manter o interesse. É, pois, um livro que recomendo sem hesitações. Na verdade fiquei de tal forma agradada com esta estreia que já pondero ler o novo livro da autora, recentemente lançado.

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