quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Pecados Santos de Nuno Nepomuceno

     Opinião: Nuno Nepomuceno é um jovem escritor português com apenas cinco livros publicados. Confesso que não li os três primeiros que compõem uma trilogia. Li no ano passado a Célula Adormecida e fiquei fã. 
     Mas vamos ao livro. A personagem principal, Afonso Catalão, professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, é também o protagonista do livro anterior, onde também já surgia sua namorada a jornalista Diana Santos Silva. Neste livro os dois têm que tentar perceber a ligação entre o assassinato de um rabino em Londres e de várias pessoas pertencentes à comunidade judaica de Lisboa. E está feita a história. Importante referir que os livros podem ser lidos independentemente um do outro. O autor acaba por remeter para a obra anterior, sem com isso se tornar maçador para quem já leu o primeiro livro.
    Neste Pecados Santos gostei basicamente de tudo. Gostei da história e das pistas que nos são aparentemente fornecidas. O autor acaba por criar um enredo entre o passado e o presente (e já sabem que gosto de livros com tempos diferentes) que nos leva a tirar conclusões lógicas, mas que acabam por não ser as verdadeiras. A narrativa está assim bastante bem concebida, o que nos leva a ler sem parar (48 horas). Muito mais gráfico que o anterior, algumas descrições e acontecimentos são de uma crueldade e violência que nos tira o folgo, sem, no entanto, esta nunca ser gratuita.
    Por outro lado, existe neste livro uma maturidade ao nível da escrita. O rigor histórico que está latente, com a brilhante investigação que o Nuno Nepomuceno efetuou, criando uma credibilidade a cima da média, e a escrita correta faz-nos perder a noção que se trata de um thriller e transporta-nos para um universo onde achamos que somos os vizinhos do lado daquelas personagens.
    Por fim de referir que o autor acaba por ironizar sobre si mesmo e sobre o seu primeiro livro, o que nos arranca um sorriso num livro denso e bastante intenso.
   De notar que com este Pecados Santos fiquei com um respeito maior em relação ao autor, devido ao autógrafo mandado através de uma encomenda da wook. O Nuno não se limitou a assinar o livro, mas fez uma dedicatória de partilha do livro com quem o adquiria. Respeito pelo leitor, que só o enaltece. Nuno Nepomuceno prova que os portugueses também conseguem escrever thrillers de qualidade, que nos prendem da primeira à última página. E é por isto tudo que já estamos com saudades do Afonso. 

     Sinopse: Nas comunidades judaicas de Londres e Lisboa, ocorre uma série de homicídios, todos eles recriando episódios bíblicos. Atos bárbaros de antissemitismo ou de pura vingança?
    Um rabino é encontrado morto numa das mais famosas sinagogas de Londres. O corpo, disposto como num quadro renascentista, representa o sacrifício do filho de Abraão, patriarca do povo judeu.

    O caso parece encerrado quando um jovem professor universitário a lecionar numa das faculdades da cidade é acusado do homicídio. Descendente de portugueses, existem provas irrefutáveis contra si e nada poderá salvá-lo da vida na prisão.

   Mas é então que ocorrem outros crimes, recriando episódios bíblicos em circunstâncias cada vez mais macabras. E as dúvidas instalam-se.
    Estarão ou não estes acontecimentos relacionados?
    Poderá o docente vir a ser injustamente condenado?
   Porque insistirá a sua família em pedir ajuda a um antigo professor, ele próprio ainda em conflito com os seus próprios pecados?
  As autoridades contratam uma jovem profiler criminal para as ajudar a descobrir a verdade. Mas conseguirá esta mente brilhante ultrapassar o facto de também ela ter sido uma vítima no passado?
 Abordando temas fraturantes da sociedade contemporânea como o antissemitismo e o conflito israelo-árabe, e inspirando-se nos Dez Mandamentos e noutros episódios marcantes do Antigo Testamento, Pecados Santos guia-nos através das ruas históricas de Londres, Lisboa e Jerusalém, numa viagem intimista e chocante sobre o que de mais negro e vil tem a condição humana.




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