Opinião: Maria
João Fialho Gouveia aparece com um novo romance histórico, desta vez sobre Os Távoras, essa família tão perseguida
pelo ministro de D. José, Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras,
Marques de Pombal.
As
personagens principais são duas cunhadas D. Mariana Barbara e D. Teresa
Tomásia. E não poderiam ser mais distintas. Enquanto a primeira é muito
religiosa e está preocupada com a salvação do mundo, da sua alma e a
importância em louvar Deus sob todas as coisas, a segunda acaba por se tornar
amante do rei, estando muito mais interessada na luxuria, nas festas, e na sua
felicidade no momento, no aqui e agora.
Na
verdade, o interessante neste livro é verificar que a família acaba por ter no
seu seio um conjunto de pessoas completamente diferentes, mas que, acima de
tudo, defendem o poder e o nome que assinam. Apesar das críticas, dos
afastamentos e até dos contrastes, nos momentos de crise, nomeadamente aquando
do terramoto de Lisboa, a família acaba por se proteger e por se unir por forma
a que todos se salvem.
Outro
aspeto a salientar é o rigor histórico que a Maria João Fialho Gouveia põe na
construção e desenvolvimento dos seus livros. Neste caso é tanto mais
importante pois existe a ideia, incorreta, de que a família Távora deixa de ter
descendentes após o tempo do Marques de Pombal, o que não corresponde, de todo,
à realidade. Mais ainda, a autora fez uma escolha feliz ao centrar a ação do
livro, no tempo anterior à perseguição e fuga, mostrando assim um clã que se
souber divertir nos momentos certos ao mesmo tempo que construía o seu poder
financeiro e social e, simultaneamente, desenvolvia a sua capacidade de
sobrevivência.
Por fim de notar a forma como o livro
está escrito. Sem artificialismos, mas com uma correção linguística e literária
que acaba por nos envolver e consegue levar-nos, como que de forma
cinematográfica, a um tempo que não é o nosso. Realço a descrição do Terramoto
de Lisboa, que é de um realismo e de um rigor histórico ímpar ao mesmo
tempo que constrói uma descrição literária sublime.
É, pois, uma obra que recomendo sem
dúvidas algumas, para quem gosta de romances históricos em particular, ou para
qualquer leitor que queira, para este verão, um livro com uma boa história e
bastante bem escrito.
Sinopse: Esta é a história da nobre família Távora, aqui contada na voz de Dona Mariana Bernarda e Dona Teresa Tomásia, duas senhoras desta ilustre Casa, que viveram em fausto e glória até o futuro marquês de Pombal tentar apagar a sua semente da face da Terra.
Apesar de unidas pelo sangue e pela vaidade da sua estirpe, as duas fidalgas não podiam ser mais diferentes uma da outra. A primeira era uma mulher religiosa e recta; já a segunda - sua tia e cunhada - entregava-se sem pruridos a uma vida de luxúria, vivendo um romance pecaminoso com El-rei de Portugal.
A altivez e o poder dos grandes Távoras muito incomodavam a Sebastião José de Carvalho e Melo, Secretário de Estado. Tanto que, quando D. José I é vítima de um intrigante atentado, Sebastião José, futuro marquês de Pombal, tratou de os inculpar, prendendo-os em masmorras e conventos, sem poupar mulheres nem crianças. O Tribunal da Inconfidência, a que presidiu, torturou os réus e condenou-os a mortes cruéis. Por fim, baniu-lhes o nome, picou-lhes as armas de família, julgou tê-los calado para sempre. Mas tê-lo-á conseguido?
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