Opinião: Falar
de um livro de um amigo é sempre difícil, mas poderá ser algo bastante penoso
se não gostarmos do livro. O que não aconteceu de todo com este livro do Luís
Telésforo. Eu adorei o livro.
O
Luís conta-nos as histórias Artur e do Jorge que embora aparentemente distintas
estão ligadas por um grau de parentesco bastante forte. Com estes dois homens
nós vamos conhecer uma realidade temporal que nada tem a ver com os nossos
dias, o Estado Novo e as condicionantes que Portugal tinha nos anos da
ditadura.
Artur
é um jovem que foi obrigado a largar a sua terra, os seus e nossos
Trás-os-Montes para vir ser ‘alguém’ na capital. Regressa à sua aldeia, onde
permanece a sua mãe, e aí encontra o amor, embora regresse a Lisboa para não
abdicar dos seus sonhos. Jorge é um menino de Benfica, obrigado a crescer
depressa e cuja formação familiar é complementada com os colegas, professores e
funcionários, do Liceu Camões. E assim se desenvolve uma história que sendo
destas duas personagens, sendo do Luís Telésforo, poderia ser de muitos
portugueses que foram obrigados a serem melhores e maiores do que o seu país.
Na
verdade, parece-me que as inconfidências não são das personagens, mas sim do
escritor e dos leitores numa época em tudo estava a preto e branco e que
dificilmente se poderia sonhar a cores.
Mas
mais do que a história o Luís leva-nos a todos os amantes da literatura a um
convívio com os grandes nomes que pelo Liceu Camões passaram. De Virgílio
Ferreira a Mário Dionísio, de Bénard da Costa a Ema Tarracha, todos os nomes
que nos criaram como leitores estão presentes dentro de um edifício que é
mítico para a cidade de Lisboa e para os lisboetas.
Mas
há mais. Há uma escrita que sendo simples e objetiva nos recorda os grandes
clássicos do Romantismo. Ao ler este livro lembrei-me de Júlio Dinis e de uma
escrita correta, adjetivada sem exageros, descritiva sem se tornar exaustiva,
criando um ambiente seja ele citadino ou campestre que nos remete para os
lugares que a nossa imaginação literária foi desenvolvendo nos leitores. A veia
poética do autor está presente na construção de uma narrativa que sendo
verdadeira, não deixa de nos levar à nossa infância e aos nossos lugares
míticos.
Assim
sendo, recomendo sem margem para dúvidas estas Inconfidências do Luís
Telésforo.
Sinopse: A partir de Trás-os-Montes, suas aldeias e hábitos, o autor enquadra as origens da personagem central que, a partir de certa altura enfrenta a vida à sua maneira. Nos actos e condutas que lhe percebemos, a teimosia e alguma irreverência de Jorge marcam a atitude isolada e a convicta. Em "Inconfidências de uma vida a preto e branco" deparam-se pistas, nunca soluções, para interrogações prováveis do autor.
Quantos de nós não vivemos, tentando ignorar, perguntas intimas latentes?
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